Reporting the Understory

A Fulbright Research Project About Independent Journalism in the Brazilian Amazon

Featured Pieces/Matérias em Destaque

Introdução: Um Jornalismo das Selvas

22 de outubro de 2024

Novas vozes ecoam pela floresta anunciando as notícias do dia, que, aqui na Amazônia, também são as notícias da época: Uma queimada ontem. Uma invasão esta manhã. Céus parcialmente esfumaçados hoje - chuva improvável. Espalhadas pela floresta, as vozes se esforçam para serem ouvidas, gritando não apenas as manchetes, mas também as explicações, investigações, confirmações e correções que podem ajudar um transeunte a entender melhor a catástrofe que acontece ao seu redor. No Acre, centro-oeste da Amazônia brasileira, a voz se chama o Varadouro e se autodenomina “um jornal das selvas”. “Comunicar para preservar”, diz seu lema e conta histórias com a selva como cenário, personagem, público e enredo. Do outro lado da floresta de Belém, onde a Amazônia se liga ao Oceano Atlântico e ao resto do mundo, outras vozes começaram a contar histórias semelhantes. A Agência Carta Amazônia narra a expansão da indústria de dendê em um quilombo florestal enquanto a Amazônia Vox descreve a promessa da produção local de chocolate na preservação da diversidade vegetal. De Manaus, onde o Rio Negro e o Rio Solimões colidem no meio da floresta para formar o Rio Amazonas, as vozes da Amazônia Real detalham a morte de indígenas Yanomami pelas mãos de garimpeiros ilegais e o Vocativo revela a inação do governo do Amazonas durante a pior seca do Estado em décadas. Na cidade portuária fluvial Santarém, o Tapajós de Fato revela a poluição dos cursos d'água por uma indústria mineradora em avanço. Na vizinha Altamira, onde a construção da terceira maior barragem fluvial do mundo causou estragos ambientais, a Sumaúma conta a história de uma jovem sem medo de cobras, mas aterrorizada com os invasores de terra que incendiaram sua escola. Em São Gabriel da Cachoeira, município com o maior percentual de indígenas do Brasil, a Rede Wayuri transmite por rádio, podcast e WhatsApp informações cruciais sobre a COVID-19. No norte, em Boa Vista, Roraima, o Correio do Lavrado investiga o avanço da pesca esportiva nos rios do norte da Amazônia e em Porto Velho, capital de Rondônia que foi sufocada por uma nuvem de fumaça no início deste ano, Voz da Terra grita sobre os incêndios iniciados por humanos, queimando terras indígenas. Olhando tudo de cima, a InfoAmazônia conta com imagens de satélite e mapas para narrar a progressão de agricultores, pecuaristas, garimpeiros, traficantes de drogas e madeireiros e o recuo da maior floresta tropical do planeta. Como grupo, as vozes representam uma nova era de jornalismo e comunicação na Floresta Amazônica. Ao longo da última década, recém-formados, repórteres de carreira e comunicadores comunitários em toda a Amazônia criaram sites, podcasts e canais de WhatsApp para publicar jornalismo original sem a influência do governo ou das corporações. Trabalhando em equipes de um ou dois ou 10 e contando com subsídios, doações e a paixão incansável de poucos voluntários, esses jornalistas assumiram uma missão elevada: proteger a Floresta Amazônica e seu povo por meio de reportagens rigorosas e precisas.

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“I took that pain and transformed it into words”: How a Sumaúma Journalist Investigated an Arson with the Help of Her Tears

November 13, 2024

Her eyes welling up in the middle of the interview, award-winning journalist Catarina Barbosa asked for a break. The 14 years she had spent reporting on human rights abuses in the Amazon hadn’t prepared her for what she just heard. Visiting a rural settlement in Anapu, Pará to report on attacks on the community by land invaders, she was inside a hut chatting with Maria Júlia, a 7-year-old girl of the community, and her family. The girl was boasting to Barbosa that she wasn’t afraid of spiders or snakes or even the dark. But the thing she was afraid of: “The bad men,” she told Barbosa. “I'm afraid of them because they could set the kids on fire.” Hearing that, Barbosa, who has her own 8-year-old son, immediately froze. “It was painful,” she told me in an interview. “I said, ‘I need a break.’” Weeks earlier, land invaders had burned down the community’s school, where the girl’s drawings hung on the wall. It was the second time they had done so in the span of two years. The community, like several others in Anapu, is an assentamento, a Brazilian land reform designation that allows a plot of land that is not being properly or productively used to be given to landless workers. Despite their legal backing, these settlements are frequently subject to invasions and violence from farmers and ranchers. In Anapu, 29 people were killed in land conflicts between 2005 and 2023. “It’s horrible to conceive that a 7-year-old child has to live with a situation like that, with that kind of fear,” Barbosa told me, with tears again appearing in her eyes. This kind of emotion might not be the first thing that comes to mind when thinking of an intrepid investigative journalist. But for Barbosa, who is president of the Brazilian Association of Investigative Journalists, personally understanding the pain of her sources is not only unavoidable--it’s also crucial to her reporting. “Some say, ‘the journalist has to be impartial.’ But I ask: how? Only if you’re not human. Because even now just remembering that makes me tear up,” Barbosa said. “People in interviews can see that I’m not oblivious to their pain. And if I’m not oblivious to their pain--and I’m really not, they can tell me things. So as much as I suffer, as much as I become miserable, that’s crucial for me to do this work.” In the interview with Maria Júlia and her family, Barbosa took a minute to remind herself of the story’s purpose, before quickly returning to the interview. “I work on that in my therapy. It’s not my pain, it’s someone else’s, even though I suffer. And so I focus on what I can do. I can write a hell of a text so that everyone knows what these children are experiencing” she said. “I dried the three tears that were there, took a breath and went back to the interview.”

“Peguei aquela dor e transformei em palavras”: Como uma Jornalista da Sumaúma Investigou o Incêndio de uma Escola com a Ajuda de suas Lágrimas

13 de novembro de 2024

Com os olhos marejados depois de ouvir o inimaginável, a premiada jornalista Catarina Barbosa pediu uma pausa. Os 14 anos de cobertura de abusos de direitos humanos na Amazônia Brasileira não a preparou para o que acabara de ouvir. Visitando um assentamento rural em Anapu, no Pará, para relatar os ataques à comunidade por invasores de terras, ela estava dentro de um barracão conversando com Maria Júlia, uma menina da comunidade com 7 anos de idade, e sua família. A menina estava se gabando para Catarina de que não tinha medo de aranha-caranguejeira, cobra ou mesmo do escuro. Mas uma coisa lhe causa terror: “Os homens maus”, disse ela a Catarina. “Tenho medo deles porque é capaz de eles tocarem fogo nas crianças”. Ouvindo isso, Catarina, que tem seu próprio filho de 8 anos, congelou. "Foi doloroso", disse em entrevista. "Eu disse: ‘preciso de uma pausa’". Semanas antes, invasores incendiaram a escola da comunidade, onde os desenhos da menina um dia foram pendurados na parede. Foi a segunda vez que fizeram isso em um espaço de dois anos. A comunidade, como várias outras em Anapu, é um assentamento, uma designação da reforma agrária brasileira que permite que um lote de terra que não está sendo usado de forma adequada ou produtiva seja destinado aos trabalhadores sem terra. Apesar de seu respaldo legal, esses assentamentos são frequentemente sujeitos a invasões e violência de fazendeiros e pecuaristas. Em Anapu, 29 pessoas foram mortas em conflitos por terra entre 2005 e 2023. “É horrível conceber que uma criança de 7 anos de idade precise conviver com uma situação dessa, com esse tipo de medo”, Catarina me contou, com lágrimas novamente aparecendo em seus olhos. Esse tipo de emoção pode não ser a primeira coisa que vem à mente quando se pensa em um jornalista investigativo intrépido. Mas para Catarina, que é presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), entender a dor de suas fontes não é apenas inevitável, é crucial para suas reportagens. “Há quem diga: o jornalista tem que ser imparcial, e eu te pergunto: como? Só se você não for humano, porque até hoje só de lembrar, o olho enche de lágrima”, disse Catarina. “As pessoas nas entrevistas conseguem perceber que não sou alheia à dor delas. E se não estou alheia – e não sou mesmo, elas podem me contar as coisas. Logo, por mais que eu sofra, que eu fique péssima, isso é fundamental para que eu consiga fazer esse trabalho”. Na entrevista com Maria Júlia e sua família, Catarina levou um minuto para lembrar o propósito da reportagem, antes de retornar rapidamente à entrevista. “Eu trabalho isso na minha terapia. Não é uma dor minha, é uma dor do outro, ainda que eu sofra. Assim, eu foco no que eu posso fazer. E eu posso escrever um bom texto para que todo mundo saiba o que essas crianças estão passando”, disse. “Eu virei um pouco. Sequei umas três lágrimas que estavam ali, respirei e voltei para a entrevista”.

Introdução: Um Jornalismo das Selvas

22 de outubro de 2024

Novas vozes ecoam pela floresta anunciando as notícias do dia, que, aqui na Amazônia, também são as notícias da época: Uma queimada ontem. Uma invasão esta manhã. Céus parcialmente esfumaçados hoje - chuva improvável. Espalhadas pela floresta, as vozes se esforçam para serem ouvidas, gritando não apenas as manchetes, mas também as explicações, investigações, confirmações e correções que podem ajudar um transeunte a entender melhor a catástrofe que acontece ao seu redor. No Acre, centro-oeste da Amazônia brasileira, a voz se chama o Varadouro e se autodenomina “um jornal das selvas”. “Comunicar para preservar”, diz seu lema e conta histórias com a selva como cenário, personagem, público e enredo. Do outro lado da floresta de Belém, onde a Amazônia se liga ao Oceano Atlântico e ao resto do mundo, outras vozes começaram a contar histórias semelhantes. A Agência Carta Amazônia narra a expansão da indústria de dendê em um quilombo florestal enquanto a Amazônia Vox descreve a promessa da produção local de chocolate na preservação da diversidade vegetal. De Manaus, onde o Rio Negro e o Rio Solimões colidem no meio da floresta para formar o Rio Amazonas, as vozes da Amazônia Real detalham a morte de indígenas Yanomami pelas mãos de garimpeiros ilegais e o Vocativo revela a inação do governo do Amazonas durante a pior seca do Estado em décadas. Na cidade portuária fluvial Santarém, o Tapajós de Fato revela a poluição dos cursos d'água por uma indústria mineradora em avanço. Na vizinha Altamira, onde a construção da terceira maior barragem fluvial do mundo causou estragos ambientais, a Sumaúma conta a história de uma jovem sem medo de cobras, mas aterrorizada com os invasores de terra que incendiaram sua escola. Em São Gabriel da Cachoeira, município com o maior percentual de indígenas do Brasil, a Rede Wayuri transmite por rádio, podcast e WhatsApp informações cruciais sobre a COVID-19. No norte, em Boa Vista, Roraima, o Correio do Lavrado investiga o avanço da pesca esportiva nos rios do norte da Amazônia e em Porto Velho, capital de Rondônia que foi sufocada por uma nuvem de fumaça no início deste ano, Voz da Terra grita sobre os incêndios iniciados por humanos, queimando terras indígenas. Olhando tudo de cima, a InfoAmazônia conta com imagens de satélite e mapas para narrar a progressão de agricultores, pecuaristas, garimpeiros, traficantes de drogas e madeireiros e o recuo da maior floresta tropical do planeta. Como grupo, as vozes representam uma nova era de jornalismo e comunicação na Floresta Amazônica. Ao longo da última década, recém-formados, repórteres de carreira e comunicadores comunitários em toda a Amazônia criaram sites, podcasts e canais de WhatsApp para publicar jornalismo original sem a influência do governo ou das corporações. Trabalhando em equipes de um ou dois ou 10 e contando com subsídios, doações e a paixão incansável de poucos voluntários, esses jornalistas assumiram uma missão elevada: proteger a Floresta Amazônica e seu povo por meio de reportagens rigorosas e precisas.

Introduction: A Jungle Journalism

October 22, 2024

New voices echo through the rainforest announcing the news of the day, which, here in the Amazon, is also the news of the era: A fire yesterday. An invasion this morning. Partly smoky skies today—rain unlikely. Scattered throughout the forest, the voices strain to be heard, shouting at the top of their lungs not only the headlines, but also the explanations, investigations, confirmations and corrections that might help a passerby better understand the catastrophe happening around them. In Acre, the western corner of the Brazilian Amazon, the voice is named Varadouro and calls itself “um jornal das selvas”—a jungle newspaper. “Communicate to preserve,” its motto reads and it tells stories with the jungle as setting, character, audience and plot. On the other side of the forest in Belém, where the Amazon links to the Atlantic Ocean and the rest of the world, other voices have begun telling similar stories. Agência Carta Amazônia chronicles the encroachment of the palm industry into a forest quilombo (a settlement occupied by the descendants of runaway slaves) while Amazônia Vox describes the promise of local chocolate production in preserving plant diversity. From Manaus, where the Rio Negro and Rio Solimões collide in the middle of the forest to form the Amazon River, the voices of Amazônia Real detail the death of Yanomami Indigenous people at the hands of illegal gold miners and Vocativo reveals the Amazonas government’s inaction during the state’s worst drought in decades. In the river port city of Santarém, Pará, Tapajós de Fato reveals the pollution of waterways by an advancing mining industry. In nearby Altamira, where construction of the third-largest river dam in the world has wreaked environmental havoc, Sumaúma tells the story of a young girl unafraid of snakes but terrified of the land invaders who burned down her school. In São Gabriel da Cachoeira, the municipality with the highest percentage of Indigenous people in Brazil, Rede Wayuri broadcasts over radio, podcast, and WhatsApp life-saving fact-checks about COVID-19. Up north in Boa Vista, Roraima, Correio do Lavrado investigates the advance of sport fishing in the rivers of the Northern Amazon and in Porto Velho, the capital of Rondônia that was smothered with a cloud of smoke earlier this year, Voz da Terra shouts about the human-started fires blazing through Indigenous lands. Looking at it all from above, InfoAmazônia relies on satellite images and maps to narrate the progression of farmers, ranchers, gold miners, drug dealers and loggers and the retreat of the largest rainforest on earth. As a group, the voices represent a new age of journalism and communication in the Amazon Rainforest. Over the last decade, recent college graduates, career reporters, and community communicators across the Amazon have created websites, podcasts and WhatsApp channels to publish original journalism uninfluenced by the government or corporations. Working in teams of one or two or 10 and relying on grants, donations and the tireless passion of a handful of volunteers, these journalists have taken on a lofty mission: protecting the Amazon Rainforest and its people through rigorous and accurate reporting.

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About the Project/Sobre o Projeto

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In the fight over the fate of the Amazon Rainforest, journalists have taken a side, arming themselves with the most powerful tool at their disposal: rigorous and accurate reporting. This website will examine the wave of independent and environmental news outlets that have arisen in the Amazon over the last decade, showing the strategies they use, the topics they cover and the impact they have.

Na luta pelo destino da Floresta Amazônica, os jornalistas tomaram partido, armando-se com a ferramenta mais poderosa à sua disposição: reportagens rigorosas e precisas. Este site examinará a onda de jornais independentes e socioambientais que surgiram na Amazônia na última década, mostrando as estratégias que eles usam, os tópicos que cobrem e o impacto que têm.

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