Novas vozes ecoam pela floresta anunciando as notícias do dia, que, aqui na Amazônia, também são as notícias da época: Uma queimada ontem. Uma invasão esta manhã. Céus parcialmente esfumaçados hoje - chuva improvável. Espalhadas pela floresta, as vozes se esforçam para serem ouvidas, gritando não apenas as manchetes, mas também as explicações, investigações, confirmações e correções que podem ajudar um transeunte a entender melhor a catástrofe que acontece ao seu redor. No Acre, centro-oeste da Amazônia brasileira, a voz se chama o Varadouro e se autodenomina “um jornal das selvas”. “Comunicar para preservar”, diz seu lema e conta histórias com a selva como cenário, personagem, público e enredo. Do outro lado da floresta de Belém, onde a Amazônia se liga ao Oceano Atlântico e ao resto do mundo, outras vozes começaram a contar histórias semelhantes. A Agência Carta Amazônia narra a expansão da indústria de dendê em um quilombo florestal enquanto a Amazônia Vox descreve a promessa da produção local de chocolate na preservação da diversidade vegetal. De Manaus, onde o Rio Negro e o Rio Solimões colidem no meio da floresta para formar o Rio Amazonas, as vozes da Amazônia Real detalham a morte de indígenas Yanomami pelas mãos de garimpeiros ilegais e o Vocativo revela a inação do governo do Amazonas durante a pior seca do Estado em décadas. Na cidade portuária fluvial Santarém, o Tapajós de Fato revela a poluição dos cursos d'água por uma indústria mineradora em avanço. Na vizinha Altamira, onde a construção da terceira maior barragem fluvial do mundo causou estragos ambientais, a Sumaúma conta a história de uma jovem sem medo de cobras, mas aterrorizada com os invasores de terra que incendiaram sua escola. Em São Gabriel da Cachoeira, município com o maior percentual de indígenas do Brasil, a Rede Wayuri transmite por rádio, podcast e WhatsApp informações cruciais sobre a COVID-19. No norte, em Boa Vista, Roraima, o Correio do Lavrado investiga o avanço da pesca esportiva nos rios do norte da Amazônia e em Porto Velho, capital de Rondônia que foi sufocada por uma nuvem de fumaça no início deste ano, Voz da Terra grita sobre os incêndios iniciados por humanos, queimando terras indígenas. Olhando tudo de cima, a InfoAmazônia conta com imagens de satélite e mapas para narrar a progressão de agricultores, pecuaristas, garimpeiros, traficantes de drogas e madeireiros e o recuo da maior floresta tropical do planeta. Como grupo, as vozes representam uma nova era de jornalismo e comunicação na Floresta Amazônica. Ao longo da última década, recém-formados, repórteres de carreira e comunicadores comunitários em toda a Amazônia criaram sites, podcasts e canais de WhatsApp para publicar jornalismo original sem a influência do governo ou das corporações. Trabalhando em equipes de um ou dois ou 10 e contando com subsídios, doações e a paixão incansável de poucos voluntários, esses jornalistas assumiram uma missão elevada: proteger a Floresta Amazônica e seu povo por meio de reportagens rigorosas e precisas.