Reporting the Understory

A Fulbright Research Project About Independent Journalism in the Brazilian Amazon

Featured Pieces/Matérias em Destaque

O Igarapé Secou e a Europa Inundou: Cobrindo a Crise Climática na Amazônia

7 de fevereiro de 2025

Nos 55 milhões de anos que a Amazônia tem sido uma floresta tropical, nunca se viu um ano como 2024. Ondas de calor escaldantes elevaram as temperaturas a altos recordes, enquanto uma seca histórica afundou os rios da bacia hidrográfica a baixos níveis sem precedentes. Ao mesmo tempo, os maiores incêndios florestais em décadas queimaram enormes áreas de floresta e criaram nuvens de fumaça que tornaram as cidades amazônicas as áreas mais poluídas do mundo. Os veículos independentes de notícias da Amazônia estavam na linha de frente para narrar esses desastres, falando com as comunidades cujas vidas foram transformadas, relatando a resposta do governo, realizando análises de dados e desenhando mapas para mostrar a natureza histórica das condições ambientais. Contudo, o que mais distinguiu o jornalismo climático desses veículos foram suas reportagens, não apenas sobre quem, o quê e onde (como está presente na maioria das coberturas da mídia sobre emergências naturais) mas também sobre o porquê. “Quando eu comecei a cobrir o clima, fazia uma cobertura que hoje eu não acho tão correta, que era expor o que estava acontecendo naquele momento e só”, disse Jullie Pereira, repórter do InfoAmazonia, um veículo independente de jornalismo de dados. “Você escreve a história e não consegue aprofundar com especialistas, não consegue aprofundar com a crítica esse poder público, não consegue trazer propostas”. Em vez desse tipo de reportagem superficial que descreve apenas o desastre específico e seu impacto imediato, veículos como a InfoAmazonia explicam as emergências climáticas locais, vinculando-as incessantemente à crise climática global e às políticas locais na Amazônia. Eles explicam aos leitores como as mudanças na atmosfera global transformam os ciclos climáticos na Amazônia, ao mesmo tempo em que investigam o imenso impacto que os projetos de desmatamento na região têm no clima. O resultado é um jornalismo aprofundado que não deixa dúvidas sobre a gravidade da crise climática na Amazônia e não deixa ilusões sobre as políticas culpadas e as mudanças que precisam ser implementadas. *** Em grande parte da Amazônia, os habitantes não precisam ser informados de que seu clima local está se comportando de maneira estranha. “As pessoas da Amazônia têm essa percepção que o clima mudou na Amazônia, o clima não é mais o mesmo. Os ciclos de chuva, os ciclos de seca mudaram”, disse Fábio Pontes, editor do Jornal Varadouro, um veículo independente com sede em Rio Branco, no Acre. Mas o que é menos visível a olho nu é a ligação entre o desaparecimento do igarapé local ou as ruas escaldantes de Manaus com os desastres que estão acontecendo em todo o mundo. “O nosso desafio é esse, o de dialogar com a população local que isso é efeito também do que elas assistem todos os dias no noticiário, seja com um incêndio florestal nos Estados Unidos, com uma enchente na Europa, na Espanha, um tufão. Mostrar para elas que tudo isso está conectado no mundo todo e aqui não é diferente”, disse Pontes. Os veículos independentes da Amazônia fazem essa ligação explicitamente, mostrando que as circunstâncias extremas que as pessoas estão vendo ao seu redor não são apenas anomalias, mas resultados previsíveis de uma transformação climática global. No ano passado, Amazônia Real iniciou uma reportagem sobre a falta de água potável em Manaus descrevendo a cidade como “um exemplo do que a ciência afirma ser a nova realidade climática nos próximos anos”. O Jornal Varadouro cobriu as sucessivas enchentes e secas do rio Acre na mesma reportagem que cobriu a conferência climática COP29. O InfoAmazonia usou uma análise exclusiva e uma coleção de mapas e visualizações detalhados para mostrar que a seca de 2024 foi de fato um evento climático extraordinário que nunca havia sido visto antes. Para fazer essa conexão entre emergências locais e a crise global, esses repórteres combinam ciência com histórias. Dados e citações de especialistas explicam a realidade inegável das mudanças climáticas na Amazônia, enquanto relatos impactantes sobre as lutas pessoais das populações locais fundamentam essas mudanças em impactos tangíveis e visíveis nas vidas humanas. Na análise exclusiva do InfoAmazonia sobre a estiagem de 2024, Pereira explicou como o aquecimento do Oceano Atlântico se combinou com o El Niño para inibir a formação de nuvens sobre a Amazônia. Enquanto isso, a equipe de dados do veículo organizou massas de medições dos rios em gráficos para mostrar claramente que a seca de 2024 não foi apenas mais extrema, mas também veio mais cedo do que a estação seca típica da região. Além desse jornalismo técnico sobre o papel das mudanças climáticas na seca, Pereira também incluiu histórias dolorosas de comunidades na Amazônia que sofrem com a descida de seus rios. Por exemplo, visitando a comunidade rural de Uarini, a mais de 500 quilômetros de Manaus, Pereira conversou com uma mulher que teve que dar à luz sem a ajuda de médicos porque a seca a impediu de chegar ao hospital mais próximo. Teria sido impossível obter essa história se Pereira não tivesse viajado para a comunidade. “É necessário que a gente consiga chegar a essas localidades ou realmente contratar repórteres locais que consigam contar essas histórias e que a gente consiga entender o que de fato está acontecendo. Então isso demanda recurso, isso demanda equipe, isso demanda interesse”, disse Pereira. “É muito importante o trabalho da cobertura climática in loco mesmo”. Pontes afirma que esses tipos de histórias pessoais dão à reportagem um impacto consideravelmente maior na explicação da crise climática, que muitas vezes pode parecer abstrata e distante. “Acho que o papel do jornalismo é dar humanidade, visibilidade, rosto, voz ao problema da questão climática. Mostrar que pessoas, seres humanos, estão sendo impactados”. *** O objetivo da cobertura climática nesses veículos independentes não é apenas mostrar a conexão entre desastres locais e a crise global, mas também mostrar como as ações locais na Amazônia têm um impacto abrupto no clima local e global. Ao fazer isso, esta reportagem tenta estimular uma conscientização política entre os leitores sobre a urgência da proteção da Amazônia e a necessidade de uma mudança na política ambiental da região. “É a questão de relacionar também, por exemplo, a grandes projetos que tem aqui em relação da mineração, agronegócio, e também não entender que é algo isolado”, disse Adison Ferreira, co-fundador da Agência Carta Amazônia em Belém. Vários veículos produziram uma cobertura aprofundada das eleições locais brasileiras no ano passado, examinando as políticas climáticas (ou a falta delas) propostas pelos candidatos nos municípios amazônicos e seu impacto direto no clima. Ainda de acordo com Pontes, a região precisa de “uma mudança política onde nós não elegemos mais políticos… que fazem um discurso de que floresta em pé é um atraso econômico para a região. Eu acho que enquanto nós estivermos elegendo políticos desse nível que nós temos hoje no Acre, com esse discurso, o desmatamento vai continuar aumentando, vamos perder mais florestas e, consequentemente, a crise climática vai se intensificar”. Para alguns, esse engajamento político é onde os veículos independentes da Amazônia mais diferem dos jornais urbanos tradicionais da região, que têm audiências maiores, mas são abertamente financiados por políticos e empresas, o que influencia sua cobertura. Cecilia Amorim, outra cofundadora da Carta Amazônia, disse que os jornalistas na Amazônia às vezes rotulam um desastre como causado pelas mudanças climáticas, mas não relatam os projetos locais de desmatamento que transformam os climas locais e globais: “Eles não especificam que é um efeito direto do agronegócio que invadiu aquela área, da monocultura de arroz que está lá”. O objetivo final desse tipo de reportagem sobre as causas locais da crise climática é mostrar aos leitores o que precisa mudar na Amazônia. “Com esse jornalismo que nós queremos fazer, nós queremos construir uma nova consciência social e política na sociedade local, para que as pessoas reflitam mais”, disse Pontes. “Nós precisamos também construir um discurso econômico, de mostrar para a sociedade, a criança, que nós podemos crescer economicamente, gerar emprego, renda, distribuir renda, mantendo a floresta em pé, explorando a floresta de forma sustentável, racional, e até fazendo reflorestamento”. Este passo final, de demonstrar as políticas na Amazônia que poderiam ajudar a combater a crise climática, é crucial não apenas para incutir consciência política, mas também para dar esperança às pessoas, uma tarefa desafiadora, dada a devastação causada por desastres recentes. “É necessário que a gente tenha uma perspectiva, assim, de esperança, porque isso não é como se tudo fosse explodir e colapsar, né? A gente vai continuar aqui, a Amazônia também vai continuar aqui”, disse Pereira. “Então, a gente precisa encontrar formas de tornar isso o melhor possível, o que a gente puder fazer”.

Most Recent/Mais Recentes

Most Recent/Mais Recentes

O Igarapé Secou e a Europa Inundou: Cobrindo a Crise Climática na Amazônia

7 de fevereiro de 2025

Nos 55 milhões de anos que a Amazônia tem sido uma floresta tropical, nunca se viu um ano como 2024. Ondas de calor escaldantes elevaram as temperaturas a altos recordes, enquanto uma seca histórica afundou os rios da bacia hidrográfica a baixos níveis sem precedentes. Ao mesmo tempo, os maiores incêndios florestais em décadas queimaram enormes áreas de floresta e criaram nuvens de fumaça que tornaram as cidades amazônicas as áreas mais poluídas do mundo. Os veículos independentes de notícias da Amazônia estavam na linha de frente para narrar esses desastres, falando com as comunidades cujas vidas foram transformadas, relatando a resposta do governo, realizando análises de dados e desenhando mapas para mostrar a natureza histórica das condições ambientais. Contudo, o que mais distinguiu o jornalismo climático desses veículos foram suas reportagens, não apenas sobre quem, o quê e onde (como está presente na maioria das coberturas da mídia sobre emergências naturais) mas também sobre o porquê. “Quando eu comecei a cobrir o clima, fazia uma cobertura que hoje eu não acho tão correta, que era expor o que estava acontecendo naquele momento e só”, disse Jullie Pereira, repórter do InfoAmazonia, um veículo independente de jornalismo de dados. “Você escreve a história e não consegue aprofundar com especialistas, não consegue aprofundar com a crítica esse poder público, não consegue trazer propostas”. Em vez desse tipo de reportagem superficial que descreve apenas o desastre específico e seu impacto imediato, veículos como a InfoAmazonia explicam as emergências climáticas locais, vinculando-as incessantemente à crise climática global e às políticas locais na Amazônia. Eles explicam aos leitores como as mudanças na atmosfera global transformam os ciclos climáticos na Amazônia, ao mesmo tempo em que investigam o imenso impacto que os projetos de desmatamento na região têm no clima. O resultado é um jornalismo aprofundado que não deixa dúvidas sobre a gravidade da crise climática na Amazônia e não deixa ilusões sobre as políticas culpadas e as mudanças que precisam ser implementadas. *** Em grande parte da Amazônia, os habitantes não precisam ser informados de que seu clima local está se comportando de maneira estranha. “As pessoas da Amazônia têm essa percepção que o clima mudou na Amazônia, o clima não é mais o mesmo. Os ciclos de chuva, os ciclos de seca mudaram”, disse Fábio Pontes, editor do Jornal Varadouro, um veículo independente com sede em Rio Branco, no Acre. Mas o que é menos visível a olho nu é a ligação entre o desaparecimento do igarapé local ou as ruas escaldantes de Manaus com os desastres que estão acontecendo em todo o mundo. “O nosso desafio é esse, o de dialogar com a população local que isso é efeito também do que elas assistem todos os dias no noticiário, seja com um incêndio florestal nos Estados Unidos, com uma enchente na Europa, na Espanha, um tufão. Mostrar para elas que tudo isso está conectado no mundo todo e aqui não é diferente”, disse Pontes. Os veículos independentes da Amazônia fazem essa ligação explicitamente, mostrando que as circunstâncias extremas que as pessoas estão vendo ao seu redor não são apenas anomalias, mas resultados previsíveis de uma transformação climática global. No ano passado, Amazônia Real iniciou uma reportagem sobre a falta de água potável em Manaus descrevendo a cidade como “um exemplo do que a ciência afirma ser a nova realidade climática nos próximos anos”. O Jornal Varadouro cobriu as sucessivas enchentes e secas do rio Acre na mesma reportagem que cobriu a conferência climática COP29. O InfoAmazonia usou uma análise exclusiva e uma coleção de mapas e visualizações detalhados para mostrar que a seca de 2024 foi de fato um evento climático extraordinário que nunca havia sido visto antes. Para fazer essa conexão entre emergências locais e a crise global, esses repórteres combinam ciência com histórias. Dados e citações de especialistas explicam a realidade inegável das mudanças climáticas na Amazônia, enquanto relatos impactantes sobre as lutas pessoais das populações locais fundamentam essas mudanças em impactos tangíveis e visíveis nas vidas humanas. Na análise exclusiva do InfoAmazonia sobre a estiagem de 2024, Pereira explicou como o aquecimento do Oceano Atlântico se combinou com o El Niño para inibir a formação de nuvens sobre a Amazônia. Enquanto isso, a equipe de dados do veículo organizou massas de medições dos rios em gráficos para mostrar claramente que a seca de 2024 não foi apenas mais extrema, mas também veio mais cedo do que a estação seca típica da região. Além desse jornalismo técnico sobre o papel das mudanças climáticas na seca, Pereira também incluiu histórias dolorosas de comunidades na Amazônia que sofrem com a descida de seus rios. Por exemplo, visitando a comunidade rural de Uarini, a mais de 500 quilômetros de Manaus, Pereira conversou com uma mulher que teve que dar à luz sem a ajuda de médicos porque a seca a impediu de chegar ao hospital mais próximo. Teria sido impossível obter essa história se Pereira não tivesse viajado para a comunidade. “É necessário que a gente consiga chegar a essas localidades ou realmente contratar repórteres locais que consigam contar essas histórias e que a gente consiga entender o que de fato está acontecendo. Então isso demanda recurso, isso demanda equipe, isso demanda interesse”, disse Pereira. “É muito importante o trabalho da cobertura climática in loco mesmo”. Pontes afirma que esses tipos de histórias pessoais dão à reportagem um impacto consideravelmente maior na explicação da crise climática, que muitas vezes pode parecer abstrata e distante. “Acho que o papel do jornalismo é dar humanidade, visibilidade, rosto, voz ao problema da questão climática. Mostrar que pessoas, seres humanos, estão sendo impactados”. *** O objetivo da cobertura climática nesses veículos independentes não é apenas mostrar a conexão entre desastres locais e a crise global, mas também mostrar como as ações locais na Amazônia têm um impacto abrupto no clima local e global. Ao fazer isso, esta reportagem tenta estimular uma conscientização política entre os leitores sobre a urgência da proteção da Amazônia e a necessidade de uma mudança na política ambiental da região. “É a questão de relacionar também, por exemplo, a grandes projetos que tem aqui em relação da mineração, agronegócio, e também não entender que é algo isolado”, disse Adison Ferreira, co-fundador da Agência Carta Amazônia em Belém. Vários veículos produziram uma cobertura aprofundada das eleições locais brasileiras no ano passado, examinando as políticas climáticas (ou a falta delas) propostas pelos candidatos nos municípios amazônicos e seu impacto direto no clima. Ainda de acordo com Pontes, a região precisa de “uma mudança política onde nós não elegemos mais políticos… que fazem um discurso de que floresta em pé é um atraso econômico para a região. Eu acho que enquanto nós estivermos elegendo políticos desse nível que nós temos hoje no Acre, com esse discurso, o desmatamento vai continuar aumentando, vamos perder mais florestas e, consequentemente, a crise climática vai se intensificar”. Para alguns, esse engajamento político é onde os veículos independentes da Amazônia mais diferem dos jornais urbanos tradicionais da região, que têm audiências maiores, mas são abertamente financiados por políticos e empresas, o que influencia sua cobertura. Cecilia Amorim, outra cofundadora da Carta Amazônia, disse que os jornalistas na Amazônia às vezes rotulam um desastre como causado pelas mudanças climáticas, mas não relatam os projetos locais de desmatamento que transformam os climas locais e globais: “Eles não especificam que é um efeito direto do agronegócio que invadiu aquela área, da monocultura de arroz que está lá”. O objetivo final desse tipo de reportagem sobre as causas locais da crise climática é mostrar aos leitores o que precisa mudar na Amazônia. “Com esse jornalismo que nós queremos fazer, nós queremos construir uma nova consciência social e política na sociedade local, para que as pessoas reflitam mais”, disse Pontes. “Nós precisamos também construir um discurso econômico, de mostrar para a sociedade, a criança, que nós podemos crescer economicamente, gerar emprego, renda, distribuir renda, mantendo a floresta em pé, explorando a floresta de forma sustentável, racional, e até fazendo reflorestamento”. Este passo final, de demonstrar as políticas na Amazônia que poderiam ajudar a combater a crise climática, é crucial não apenas para incutir consciência política, mas também para dar esperança às pessoas, uma tarefa desafiadora, dada a devastação causada por desastres recentes. “É necessário que a gente tenha uma perspectiva, assim, de esperança, porque isso não é como se tudo fosse explodir e colapsar, né? A gente vai continuar aqui, a Amazônia também vai continuar aqui”, disse Pereira. “Então, a gente precisa encontrar formas de tornar isso o melhor possível, o que a gente puder fazer”.

Local to Global and Back Again: Covering the Climate Crisis in the Amazon

February 5, 2025

In the 55 million years the Amazon has been a rainforest, it has never seen a year like 2024. Scorching heat waves drove temperatures to record highs while a historic drought sunk rivers in the basin to unprecedented lows. At the same time, the largest forest fires in decades charred huge swaths of forest and created plumes of smoke that made Amazonian cities the most polluted areas in the world. The independent news outlets of the Amazon were on the frontlines of chronicling these disasters, speaking to the communities whose lives had been upended, reporting on the government’s aid response, and performing data analyses and drawing maps to show the historic nature of the environmental conditions. But what most distinguished the climate journalism of these outlets was their reporting on not just the who, what and where--as is present in most media coverage of natural emergencies--but also the why. “When I started covering the climate, I did coverage that now I don't think is so correct, which was exposing what was happening at that moment and that's it,” said Jullie Pereira, a reporter for InfoAmazonia, an independent data journalism outlet. “You write the story and you don’t go deeper with experts, you don’t go deeper with criticism of the authorities, you don’t bring proposals.” Instead of this superficial reporting that describes only the specific disaster and its immediate impact, news outlets like InfoAmazonia explain local climate emergencies by incessantly linking them to the global climate crisis and by linking the global climate crisis back to local policies in the Amazon. They explain to readers how climate change has transformed weather patterns in the Amazon, while also investigating the tremendous impact deforestation projects in the region have on the global climate. The result is in-depth reporting that leaves no doubt about the gravity of the climate crisis in the Amazon and no illusions about the policies that are to blame and the changes that need to be implemented. *** In much of the Amazon, people don’t need to be told that their local climate is behaving strangely. “The people from the Amazon have this perception that the climate has changed in the Amazon. The climate is no longer the same, the rain cycles, the drought cycles have changed,” said Fabio Pontes, editor of Jornal Varadouro, an independent news outlet based in Rio Branco, Acre. But what’s less visible to the naked eye is the link between the scorching streets of Manaus or the disappearance of the local forest stream to the disasters happening all around the world. “Our challenge is to talk to the local population about the fact that this is also an effect of what they see every day on the news, be it a forest fire in the United States, a flood in Spain, a typhoon. It’s showing them that all this is connected around the world and here is no different,” Pontes said. The independent news outlets of the Amazon make that link explicitly, showing again and again that the extraordinary circumstances people in the Amazon are seeing around them are not just anomalies but predictable results from a global climate transformation. Last year, Amazônia Real began an article about the lack of potable water in Manaus by describing the city as “an example of what science affirms to be the new climate reality in the coming years.” Jornal Varadouro covered the Acre River’s successive floods and droughts in the same article it covered the COP29 climate conference. InfoAmazonia used an exclusive analysis and a collection of intricate maps and visualizations to show that the 2024 drought was in fact an extraordinary climate event that had never been seen before. To make this connection between local emergencies and the global crisis, these reporters combine science with anecdotal reporting. Data and quotes from expert sources explain the undeniable reality of climate change in the Amazon while poignant reporting on the personal struggles of local populations ground these changes in tangible and visible impacts on human lives. In InfoAmazonia’s exclusive analysis of the 2024 drought, Pereira explained how a warming Atlantic Ocean had combined with El Niño to inhibit cloud formation over the Amazon. Meanwhile, the outlet’s data team arranged masses of river measurements into charts to show clearly that the 2024 drought wasn’t just more extreme but also came earlier than the Amazon’s typical dry season. But in addition to this technical reporting on climate change’s role in the drought, Pereira also included heartbreaking stories of communities in the Amazon suffering from the decline of their rivers. For example, visiting the rural community of Uarini, more than 500 kilometers upriver from Manaus, Pereira spoke with a woman who had to give birth without the help of doctors because the drought prevented her from reaching the closest hospital. It would’ve been impossible to get that story if she hadn’t travelled to the community, Pereira said. “It is important for us to be able to travel to these locations or actually hire local reporters who can tell these stories so that we can understand what is actually happening. This demands resources, this demands staff, this demands interest,” she said. “The work of climate coverage on-site is very important.” These kinds of personal stories give reporting considerably greater impact in explaining the climate crisis, which can often seem abstract and distant, Pontes said. “I think the role of journalism is to give humanity, visibility, face, voice to the climate issue. To show that people, human beings, are being impacted.” *** But the goal of climate coverage at these independent outlets is not only to show the link between local disasters and the global crisis, but also to show how local actions in the Amazon have an extraordinary impact on both the local and global climate. In doing so, this reporting attempts to stimulate a political awareness among readers about the urgency of the Amazon’s protection and the need for a change in environmental policy in the region. “It’s a question of also relating [a local climate disaster] to the large projects here in mining, agribusiness, and understanding that it is not something isolated,” said Adison Ferreira, co-founder of the Carta Amazônia news agency in Belém. Several independent outlets produced in-depth coverage of the Brazilian local elections last year, examining the climate policies, or lack thereof, of candidates in Amazonian municipalities and their direct impact on the climate. Pontes said that the region needs “a political change where we no longer elect politicians… that use this discourse that the forest is an economic backwardness for the region. As long as we are electing politicians of the level we have today in Acre, with this discourse, deforestation will continue to increase, we will lose more forests and, consequently, the climate crisis will intensify.” For some, this political engagement is where the Amazon’s independent news outlets most differ from the traditional urban newspapers of the region, which have larger audiences but are openly funded by politicians and corporations, influencing their coverage. Cecilia Amorim, another co-founder of Carta Amazônia, said journalists in the Amazon sometimes label a disaster as caused by climate change, but don’t report on the local deforestation projects that transform both the local and global climate: “They don't specify that it's a direct effect from the agribusiness that invaded that area, from the monoculture of rice that is there.” The end goal of this kind of reporting on the local causes of the climate crisis is to show readers what needs to change in the Amazon. “With this journalism that we want to do, we want to build a new social, political awareness in local society, so that people can reflect more,” Pontes said. “We also need to build an economic discourse, to show society--children--that we can grow economically, generate jobs, distribute income, by keeping the forest standing, using the forest in a sustainable, rational way and even through reforestation.” This final step, of demonstrating the policies in the Amazon that could help combat the climate crisis, is crucial not just to instill political awareness but also to give people hope, a challenging task given the devastation recent disasters have caused. “We need to have a perspective of hope, because it’s not like everything is going to explode and collapse,” said Pereira from InfoAmazonia. “We will continue here, the Amazon will also continue here. So we need to find ways to make this as good as possible however we can.”

Como os jornalistas independentes estão investigando a destruição da Amazônia com a ajuda de novos informantes

8 de dezembro de 2024

Na batalha para salvar a Floresta Amazônica, os jornalistas estão expandindo sua lista de contatos. Encontrar, conhecer e ganhar a confiança de pessoas importantes dentro de questões importantes, e que possam dar informações importantes é o trabalho de repórteres em todos os lugares. Mas nos últimos anos, os jornalistas da Amazônia e os veículos independentes para os quais escrevem têm repensado quem são essas pessoas, onde podem ser encontradas e como devem ser as relações com elas. Esses jornalistas argumentam que as reportagens tradicionais sobre a Amazônia se baseiam demais nas vozes do governo e empresários, além de especialistas de fora da região, e que as perspectivas das comunidades marginalizadas que protegem grande parte da floresta - incluindo povos indígenas, comunidades ribeirinhas e quilombolas - são completamente negligenciadas. Ainda de acordo com os profissionais, essa lacuna nas redes de fontes de repórteres leva a mídia a retratar a região e seus grupos marginalizados de maneiras imprecisas e estereotipadas, bem como a ignorar os problemas mais graves enfrentados pela região e seu povo. Os meios de comunicação independentes que surgiram na Amazônia na última década procuram expandir suas redes de fontes além dos centros de poder, para construir relacionamentos com comunidades marginalizadas, permitindo que seus jornalistas revelem abusos e irregularidades não relatadas de direitos humanos e, ao fazê-lo, ajudam a trazer mudanças. “Fazemos jornalismo”, disse Elaíze Farias, cofundadora da Amazônia Real, uma pioneira entre essas agências independentes. “O nosso principal objetivo é falar do mesmo assunto de uma outra forma, ouvindo todas aquelas pessoas que muitas vezes não eram ouvidas para nada sobre assuntos que lhes atingia.” Essas agências de notícias desenvolveram uma ampla rede de relacionamentos estreitos com comunidades que estão na linha de frente da batalha para preservar a Amazônia, permitindo que seus jornalistas tenham acesso exclusivo a algumas das pautas mais críticas da região, incluindo pautas sobre destruição ambiental, abusos de direitos humanos e corrupção. Quando essas comunidades sofrem uma invasão de terras, emergência climática ou encontram uma balsa garimpeira em seu rio local, por exemplo, os repórteres são alguns dos primeiros a descobrir. “As pessoas dentro das próprias aldeias indígenas, sas comunidades ribeirinhas, elas me enviam essas denúncias”, disse Nicoly Ambrosio, repórter da Amazônia Real, afirmando que permanece em contato constante com essas comunidades mesmo quando não está trabalhando em uma reportagem relacionada. “Falando e fazendo matérias sobre esses assuntos, a gente cria meio que uma relação.” A ausência de uma plataforma para muitas dessas comunidades expressarem suas demandas, somada a ausência do governo em muitas áreas, faz com que os repórteres ocupem um papel crítico no compartilhamento dessas pautas com o mundo. Em muitos casos, as reportagens pressionam ativamente as autoridades para resolver uma crise com a qual pouco tinham ideia do que estava acontecendo ou sequer demonstravam se importar. Esse foi o caso da reportagem de Catarina Barbosa sobre uma comunidade em Anapu, no Pará, cuja escola foi incendiada por invasores de terra. O governo originalmente fez com que as crianças da comunidade frequentassem uma escola diferente a quilômetros de distância, em vez de reconstruí-la. Porém, após a publicação da história de Barbosa, que contou com os relatos de vários membros da comunidade, o governo municipal chegou para reconstruir a estrutura de madeira. Impacto semelhante veio da reportagem da Amazônia Vox sobre o pré-natal nas comunidades ribeirinhas, que levou a um projeto de lei introduzido na legislatura estadual do Pará para dar prioridade às mulheres dessas comunidades no sistema de saúde do estado. O veículo independente, com sede em Belém, nasceu com a intenção de aumentar a representação de vozes locais e marginalizadas nas reportagens sobre a Amazônia. Em seu site, a Amazônia Vox opera um banco de fontes da Amazônia, listando as informações de contato de centenas de especialistas e líderes comunitários na Amazônia para outros jornalistas utilizarem como fontes. Daniel Nardin, fundador do Amazonia Vox, disse que a intenção é “gerar conexão e fomentar a maior participação das vozes locais nas narrativas que são produzidas sobre a nossa região”. Mas os jornalistas dizem que estabelecer fontes entre as populações locais requer mais do que apenas ter suas informações de contato. Muitas vezes é preciso tempo e cuidado para que se desenvolvam essas relações com pessoas marginalizadas, pois muitas delas não tiveram experiências positivas com a mídia. “Me incomodava muito fazer reportagens e ouvir das pessoas--elas me falavam assim: ‘Mas você vai escrever realmente o que eu tô falando? Porque o último jornalista que veio aqui, ele colocou um monte de coisa na matéria que eu não disse’”, afirma Barbosa. Superar essa desconfiança exige uma abordagem cuidadosa, o que inclui pedir permissão explícita para entrar nas comunidades e explicar às pessoas exatamente qual é o propósito da reportagem. “É preciso sempre ser transparente sobre suas as intenções, qual o objetivo da reportagem dela e o que pode acontecer de benefício,” disse Farias. Às vezes, isso requer cultivar relacionamentos por meses antes que uma entrevista gravada realmente ocorra, como quando Farias conversou com uma comunidade no Vale do Javari por quase um ano antes de viajar para o território para fazer uma reportagem. Isso também significa entender que muitas pessoas têm uma experiência muito limitada de lidar com a mídia e podem até falar uma língua ou dialeto diferente. Barbosa disse que algumas de suas fontes não são alfabetizadas. “Quando eu faço reportagem com pessoas que não sabem, que eu sei que elas leem pouco, ou que elas não sabem ler, eu gravo, eu leio a reportagem que eu escrevi em áudio e envio a elas por WhatsApp”. Os repórteres também devem ser pacientes com pessoas que podem ter apenas tempo limitado em que têm acesso à internet ou uma pausa no seu trabalho para falar com um jornalista. “Se você chega em um território ou fala com uma pessoa de uma cultura tradicional, primeiro em um lugar você tem que ter um respeito de realmente ser sensível à realidade dessa pessoa”, disse Ambrósio. Essa paciência por parte dos repórteres vale a pena, dizem eles, não apenas porque construir relacionamentos com comunidades marginalizadas lhes dá informações valiosas e exclusivas sobre as crises mais importantes que ocorrem na Amazônia, mas também, por incluir as diferentes formas de conhecimento e formas de ver o mundo que essas fontes possuem. Esse fator é fundamental para a missão e responsabilidade de um jornalista: entender uma questão de todas as perspectivas. Isso é especialmente verdadeiro na Amazônia, onde especialistas e defensores do meio ambiente dizem que as formas não-ocidentais de entender e tratar a floresta são fundamentais para a preservação da região. “A gente valoriza o saber das populações amazônicas”, disse Farias. “Ou seja, o saber da ciência não ocidental, da ciência indígena, da filosofia indígena. Esses intelectuais locais têm conhecimento e autoridade para falar sobre várias questões de nosso tempo, mas muitas vezes são menosprezados”.

How independent journalists are investigating the Amazon’s destruction with the help of new informants

December 8, 2024

In the battle to save the Amazon Rainforest, journalists are expanding their address book. Finding, meeting,and earning the trust of important people inside important issues who can give important information is the job of reporters everywhere. But in recent years, journalists in the Amazon and the independent news outlets they write for have been rethinking who those important people are, where they can be found and what the relationships with them should look like. These journalists argue that traditional reporting about the Amazon has relied too heavily on the voices of government officials and influential corporations and that the perspectives of the marginalized communities protecting much of the forest, including Indigenous people, river communities and quilombos (settlements historically established by runaway slaves), have been completely neglected. They argue that this gap in reporters’ source networks leads the news media to portray the region and its marginalized groups in inaccurate and stereotypical ways and to ignore the gravest problems facing the region and its people. The independent news outlets that have arisen in the Amazon over the last decade have sought to expand their source networks beyond centers of power to build relationships with marginalized communities, enabling their journalists to reveal unreported human rights abuses and wrongdoing and in doing so, help bring about change. “We do journalism,” said Elaíze Farias, co-founder of Amazônia Real, a pioneer among these independent news outlets. “Our main goal is to talk about the same subject in a different way, listening to all those people who often were not heard at all about issues that affected them,” said. These news outlets have developed an expansive network of close relationships with communities who are on the front lines of the battle to preserve the Amazon, giving their journalists exclusive access to some of the region’s most critical stories, including stories of environmental destruction, human rights abuses and corruption. When these communities suffer a land invasion or climate emergency or find a gold mining raft in their local river, for example, the reporters are some of the first to find out. “The people within the Indigenous villages, the riverside communities, they send me these tips,” said Nicoly Ambrioso, a reporter at Amazônia Real, who said she stays in constant contact with these communities even when she’s not working on a related story. “Speaking with them and writing stories about these topics, we end up creating somewhat of a relationship.” Given the absence of a platform for many of these communities to voice their demands and the lack of government presence in many areas of the Amazon, reporters occupy a critical role in sharing these stories with the world. In many cases, the articles actively put pressure on the authorities to solve a crisis they had little idea was happening or cared little about. That was the case in Catarina Barbosa’s story about a community in Anapu, Pará where a school was burned down by land invaders. The government originally had the community’s kids attend a different school miles away instead of rebuilding it, but soon after the publication of Barbosa’s story, which relied on the accounts of several members of the community, the municipal government arrived to rebuild the one-room wood structure. Tangible impact also came from Amazônia Vox’s reporting about prenatal care in river communities, which led to a bill introduced in the state legislature of Pará to give priority to women from these communities in the state’s health system. The independent outlet, based in Belém, was born with the intention of increasing the representation of local and marginalized voices in reporting about the Amazon. On its website, Amazonia Vox operates an Amazonian source bank, listing the contact information of hundreds of experts and community leaders in the Amazon for other journalists to draw upon as sources. Daniel Nardin, founder of Amazonia Vox, said the intention is to “generate connection and encourage greater participation of local voices in the narratives that are produced about our region.” But journalists say that building sources among local populations requires more than just having their contact information. It often takes time and care for journalists to develop these relationships with marginalized people, many of whom haven’t had positive experiences with the media. “It really bothered me to be reporting a story and hear people say to me, ‘But are you really going to write what I’m saying? Because the last journalist who came here, he put a lot of things in the article that I didn’t say,’” said Barbosa. To overcome such mistrust demands taking a careful approach that includes asking for explicit permission to enter communities and explaining to people exactly what the purpose of the reporting is. “You must always be transparent about your intentions, the objective of your reporting and what benefits can come from it,” Farias said. Sometimes it means cultivating relationships for months before an on-the-record interview actually occurs, like when Farias spoke with a community in the Javari Valley for almost a year prior to traveling to the territory to report a story. It also means understanding that many people have very limited experience of dealing with the media and might even speak a different language or dialect, Farias said, adding that journalists have to be sensitive and understanding of those challenges. Barbosa said some of her sources are not literate. “When I am reporting with people who I know they read little, or that they don't know how to read, I record and read the article in audio and send it to them via WhatsApp,” she said. Reporters also must be patient with people who might only have limited windows in which they have access to internet or time away from their work to speak to a journalist. “If you arrive in a territory or speak to a person from a traditional culture, you first have to have the respect of really being sensitive to that person's reality,” Ambrioso said. This patience on the part of reporters is worth it, they say, not only because building relationships with marginalized communities gives them valuable and exclusive information about the most important crises occurring in the Amazon. But also, including the different forms of knowledge and ways of seeing the world that these sources have is fundamental to a journalist’s mission and responsibility of understanding an issue from all perspectives. This is especially true in the Amazon, where experts and environmental advocates say non-Western ways of understanding and treating the forest are critical to the region’s preservation. “We value the knowledge of the Amazonian populations,” said Farias. “That is, the knowledge of non-Western science, indigenous science, indigenous philosophy. These local intellectuals have the knowledge and authority to speak on various issues of our time, but they are often overlooked.”

See More/Ver Mais

About the Project/Sobre o Projeto

About the Project/Sobre o Projeto

In the fight over the fate of the Amazon Rainforest, journalists have taken a side, arming themselves with the most powerful tool at their disposal: rigorous and accurate reporting. This website will examine the wave of independent and environmental news outlets that have arisen in the Amazon over the last decade, showing the strategies they use, the topics they cover and the impact they have.

Na luta pelo destino da Floresta Amazônica, os jornalistas tomaram partido, armando-se com a ferramenta mais poderosa à sua disposição: reportagens rigorosas e precisas. Este site examinará a onda de jornais independentes e socioambientais que surgiram na Amazônia na última década, mostrando as estratégias que eles usam, os tópicos que cobrem e o impacto que têm.

Read More/Ler Mais